Agosto 2023

Agosto 2023

“Violence is the last refuge of the incompetent. Perhaps cynicism is his first.” - Isaac Asimov (Foundation), adaptado
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Mídia

Uma das corriqueiras joias do blog Stratechery; sobre a ascensão e queda do poder de barganha dos canais de TV frente aos seus meios de transmissão (cabo, satélite e vMVPDs). A história é contada através da ótica do grande extrator de valor dentro do bundle de pay-TV, a ESPN.

Trata-se de uma indústria que requer um amplo redesenho após mais de dez anos de cortes nos lares que pagam TV por assinatura. O sistema começa a dar indícios de ter chegado no ponto de inviabilidade econômica para os principais distribuidores do pacote legado, ao passo que os canais de TV tentam futilmente sustentar seus lucros, outrora extraordinários, em meio a uma nova realidade.

Se não bastasse, a indústria encontra-se em um clássico dilema dos prisioneiros onde as ofertas de streaming dos próprios canais competem com a assinatura de pay-TV, acelerando a queda no número de assinantes e ampliando os prejuízos da cadeia como um todo.

The broader issue is that the video industry finally seems to be facing what happened to the print and music industry before them: the Internet comes bearing gifts like infinite capacity and free distribution, but those gifts are a poisoned chalice for industries predicated on scarcity. When anyone could publish text, most text-based businesses went from massive profitability to terminal decline; when anyone could distribute music the music industry could only be saved by tech companies like Spotify helping them sell convenience in place of plastic discs.

For the video industry the first step to survival must be to retreat to what they are good at — producing content that isn’t available anywhere else — and getting away from what they are not, i.e. running undifferentiated streaming services with massive direct costs and even larger opportunity ones.”

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Comportamento e Psicologia

Um ensaio escrito pelo físico teórico britânico David Deutsch sobre os estranhos sustentáculos do pessimismo frente ao exponencial progresso material e científico dos últimos cinco a seis séculos.

Deutsch viaja ao passado e identifica a escola filosófica cínica (fundada por Antístenes na Grécia Antiga circa 400 a.C. e tendo como principal proponente o caricato Diógenes de Sinope) como uma das causas-raizes pela propagação moderna de uma interpretação da realidade desajustada, em outra época minimamente lastreada na relativa “estase” (institucionalmente e culturalmente auto-infligidas…) da antiguidade.

Every solution creates new problems. But they can be better problems. Lesser evils. More and greater delights.” - David Deutsch

E em uma veia prática, este paper desbanca a atribuição equivocada do público em geral de que há uma correlação positiva entre o cinismo e a competência.

A nuance é interessante e intuitiva: em contextos socioculturais extrativos e opacos, o cinismo tende a “pagar” e pode correlacionar com competência individual, enquanto em contextos inclusivos e transparentes a correlação costuma inverter.

Consistent with the evolutionary arguments laid out above, we also predicted that the negative association between competence and cynicism will depend on the environment’s sociocultural climate. Highly competent individuals will be more likely to endorse cynicism if they live in a country where cynical views seem justified—for example, in a country with corrupted institutions and a weak rule of law—whereas low-competence individuals will embrace cynicism regardless of the characteristics of the sociocultural environment they face.

(…)

As cynicism is closely related to distrust (Singelis, Hubbard, Her, & An, 2003), cynical (vs. less cynical) individuals might be more distrustful of the opinions and knowledge of others, a behavior that can eventually prevent them from expanding their knowledge and understanding.”

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História e Civilização

Resumo do livro “The WEIRDest People in the World: How the West Became Psychologically Peculiar and Particularly Prosperous” do professor de antropologia e biologia evolucionária de Harvard, Joseph Heinrich (“WEIRD“ é um acrônimo para “Western, Educated, Industrialized, Rich and Democratic”).

Uma adição importante e original à classe da literatura que procura explicar a idiossincrasia do progresso ocidental; o livro (para os corajosos - um tomo repleto de representações gráficas exemplificativas) elucida os fatores que levaram ao surgimento dos traços psicológicos quase que exclusivamente circunscritos ao ocidente e sua co-influência com a emergência de direitos individuais, da democracia, mercados, inovação e por conseguinte do atingimento da velocidade de escape no desenvolvimento econômico.

Meanwhile, what is happening in the non-Western world? I can imagine two replies to this. One corresponds to what people often say about the Iraq war: ‘you can’t just import institutions into a place where the culture isn’t ready’. You can tell this in a key of triumphalism – the West is always going to be richer, until the Rest of the world changes radically – or a key of despair – the Rest is never going to become democratic. At the end, briefly, the book seems to lean this way: ‘standard approaches to policy are poorly equipped to understand or deal with the institutional-psychological mismatches that arise from globalization.’”

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Miscelânea

Sobre o campo da neurociência coletiva, que vem estudando o funcionamento e sincronia de cérebros durante interações e experiências compartilhadas. Interessante reflexão particular e sociológica: do valor inestimável do bom trabalho em equipe à cooperação humana em larguíssima escala, diferencial do homo sapiens e uma das principais forças por trás do progresso civilizatório.

“When we're talking to each other, we kind of create a single überbrain that isn't reducible to the sum of its parts,” – Thalia Wheatley (pesquisadora do departamento de psicologia e neurociência de Dartmouth)

Revisitação do conceito de system 1 vs system 2 thinking (popularizado por Kahneman e Tversky) no contexto de modalidades de intake informacional. Conclusão: escutar é fortemente (possivelmente evolutivamente) uma atividade system 1… Em termos práticos isso significa que deve-se ter extra-cautela com podcasts consumidos passivamente (e inclusive audiobooks…) caso o material exigir atenção analítica.